Na maioria das vezes, o empreendedorismo feminino é uma necessidade.
Elas podem ser mães, com seus trinta e poucos anos, com formação universitária. Para algumas, a abertura de um negócio é a saída para obter renda, outras aproveitaram uma oportunidade do mercado. O empreendedorismo feminino vem crescendo, mas este fenômeno resulta da formalização de algo que as mulheres sempre fizeram, que é batalhar.
Dados da pesquisa realizada pela GEM (Global Entrepreneurship Monitor) divulgada pelo Sebrae-MS mostram que os empreendimentos iniciais têm maior participação de mulheres. Em 2017, a taxa de empreendedorismo inicial (que é a porcentagem da população brasileira de 18 a 64 anos que é empreendedor nascente, ou seja está envolvido na estruturação de um negócio do qual será proprietário, ou novo) aponta que 20,7% compõe-se de mulheres e 19,9% de homens.
Em empresas já estabelecidas, eles ainda são a maioria. A taxa fica em 18,6% para o público masculino e 14,4% para o feminino. Os dados do Portal do Empreendedor confirmam e mostram os homens como maioria dos MEIs (microempreendedores individuais).
Empreendedorismo feminino: Quem são elas?
“É aquela mulher que faz bolo, costura, cuida de bebês, são as artesãs. Tem muita informalidade. A mulher não se vê como empresária, mas empreendem desde sempre e estão agora se apropriando disso. A mulher vê isso como uma questão de sobrevivência, de geração de renda, não uma opção de vida”.
Porém, os números poderiam ser maiores, não fosse a timidez das mulheres em tomarem posse da sua capacidade.
Uma pesquisa promovida pela RME realizada com quase 1400 mulheres em 2016 traçou um perfil das empreendedoras no Brasil. A idade média delas é de 38,7 anos, 79% tem formação universitária, 61% é casada ou tem um companheiro e 55% tem filhos.
Sobretudo, o principal motivo que as levam a abrir o próprio negócio é sumamente emocional. Trabalhar com o que gostam/realizar um sonho foi citado por 66% das entrevistadas. Flexibilidade de horário e ter uma renda maior foram mencionados por 52% e 40% respectivamente. Já, 35% delas indicaram ter encontrado uma oportunidade.
Caroline ressalta uma das diferenças entre as mulheres e os homens no mercado de trabalho. “O homem, quando vê uma vaga de emprego, ele se candidata, não quer saber se sabe fazer. A mulher só se arrisca se realmente se achar capaz, se ela achar que não cumpre o requisito, nem manda currículo”, define.
Da necessidade à oportunidade
Neste mundo do empreendedorismo feminino há empreendedores por necessidade e por oportunidade. O primeiro tipo é composto por pessoas que decidiram abrir uma empresa por causa de alguma situação em que se viu obrigado a tal. Já o segundo, são pessoas que perceberam uma chance no mercado.
Sonho em prática
Assim, a psicopedagoga Fábia Jacob, de 44 anos, tinha um sonho, mas somente colocou em prática quando, depois de ter trabalhado por 7 anos como funcionária pública em hospitais, se viu na fila do emprego. “Fiquei um ano procurando e não consegui encontrar um emprego. Me vi naquela situação que mostram nos jornais, de filas quilométricas de pessoas procurando por emprego. Tinha que fazer alguma coisa, estava sem salário, precisando pagar contas”, relata.
Fábia abriu o espaço lúdico Pedacinho de Vida para crianças a partir de 4 meses até 5 anos. O estabelecimento, que há tem 3 anos, é algo entre uma creche e uma escola e hoje atende quase 30 crianças, onde elas aprendem com jogos e brincadeiras, de acordo com a idade.
“Comecei em uma casa pequena e fui fechando convênios. Depois tive que mudar de endereço, para um local maior”, conta. “O primeiro ano foi difícil, com os impostos e contas. Inicialmente abri a empresa com uma amiga, mas ela desistiu por conta das dificuldades. Realmente não é fácil abrir uma empresa. Mas dei continuidade, chamei meu namorado para a sociedade e hoje ele é meu marido”.
Tempo para o filho
Desde que se tornou mãe, há 7 anos, Glaciele de Figueiredo, de 38, já fazia os bolos de aniversário do filho. Mas foi quando sofreu um acidente de moto e precisou consertar seu único meio de condução é que ela viu maior necessidade de empreender.
“Comecei a fazer amendoim torrado com chocolate que a minha mãe fazia. Meus amigos me incentivaram e comecei a vender. Deu bastante resultado”, relembra a empresária. Há três anos Glaciele vende bolos e amendoim, já tem empresa constituída e planeja a abertura de uma loja.
“Não sabia como ia ser, mas comecei a ver resultado. Com isso fui adquirindo mais conhecimento”, declara. Seu carro chefe é a confeitaria e por enquanto ela é a única a tomar conta das encomendas e da divulgação nas redes sociais. Ainda assim, é o meio pelo qual ela consegue cuidar da família. “Se não fosse isso, não teria tempo para estar cuidando do meu filho. Hoje estou mais próxima dele e da minha mãe, que precisa da companhia”.
Empreendedorismo feminino nas férias
Juliana Vieira, de 34 anos, já era formada em zootecnia e cursava medicina veterinária quando, num período de férias cuidou do cavalo da família e percebeu uma grande oportunidade. “Comecei a mudar a alimentação dele e o resultado foi muito bom”, relembra. “Depois disso, minha tia conversou comigo e me incentivou a abrir um negócio voltado a esse público”, acrescenta.
Em janeiro de 2017 ela iniciou os trabalhos com nutrição para cavalos atletas. “Comecei atendendo alguns cavalos aqui (em Campo Grande). Desenvolvi outras técnicas, inseri produtos. Passei a atender não só em Mato Grosso do Sul, como no Paraná e Rio de Janeiro. Assim, em dois anos consegui crescer e entrei para o universo dos cavalos como referência no aspecto de nutrição para hipismo”, conta. Ela ainda tem planos de abrir uma filial da Nutri Equus no interior de São Paulo e no Nordeste no ano que vem.
Isto é, com a expansão da empresa e o aumento da equipe, Juliana pretende retomar o curso de medicina veterinária, que precisou interromper para cuidar dos negócios. Assim ela poderá, além de atuar na área de nutrição comportamental, realizar atendimento fisioterápico para cavalos atletas.
Tem mais Empreendedorismo feminino? Sim!
Paralelamente, outra ideia da empresária toma forma. “Começou com a ideia de um ‘Tinder’ para cavalos, mas virou rede de relacionamento equestre, que tem o objetivo de conectar pessoas ligadas a cavalos, proprietários, veterinários, atletas”, descreve. O aplicativo Horse4U está em desenvolvimento e deve ser lançado em março de 2019.
Conforme Juliana, o empreendedorismo teve um desafio a mais pelo fato de ser mulher. “O trabalho com cavalo ainda é um mundo masculino demais, mas com jeitinho feminino, hoje as pessoas confiam muito em mim, principalmente por ser mulher”, afirma e confessa que todos seus clientes são mulheres, que no mercado equestres, segundo ela, lidera muito mais do que os homens e estão na posição de proprietárias, veterinárias, treinadoras, donas de centro equestre e apresentam uma dinâmica diferente.
“Acabei descobrindo as mulheres são mais fortes,
são as mães que acompanham os filhos nas provas
e quando são os homens, sempre tem uma mulher por
trás, uma fisioterapeuta, uma esposa, uma mãe”,
e completa, “se você tem vontade de fazer algo, faça.
O fato de ser mulher não diminui em nada a capacidade
de fazer a diferença. O mundo precisa de pessoas
que façam a diferença, independente de serem
homens ou mulheres”.
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