Dia 15 de junho de 2019 foi atípico. Das 9h às 17h de um sábado fizemos, eu e meu marido, um dia de retiro de meditação Xiu Xing – Nobre Silêncio no maior templo budista da América Latina, o Zu Lai em Cotia/SP. A experiência foi intrigante, desconfortável mas ao mesmo tempo inesquecível. Ali pude vivenciar um choque cultural, uma breve imersão em um estilo de vida, valores e costumes muito diferentes. Apesar de me interessar há muito tempo por meditação e budismo, me considero uma leiga e passar o dia com uma monja chinesa e em silêncio foi impactante. Anteriormente a ideia que eu tinha sobre mim era: “não consigo meditar direito! Depois de 5 min eu já não aguento, dói tudo! Não sei me concentrar pra meditar”. Mas nesse retiro, simplesmente, mergulhei de cabeça. 

 



Esforce-se sempre para ser bem compreendida 

 

Durante todo o dia apenas quem falava era a monja (e sua tradutora). Ela era absolutamente minuciosa nas informações prestadas sobre tudo (banheiro, intervalo, almoço, fila, tempo, barulho, disposição dos sapatos, técnicas de meditação, bebedouro etc), uma vez que tinha como objetivo orientar e sanar possíveis dúvidas de 100 pessoas a todo momento, sem que esse público pudesse interagir instantaneamente através de perguntas em voz alta. Ou seja, nesse “diálogo”, apenas um emissor podia falar, tamanha era sua responsabilidade! Nós, receptores, poderíamos eventualmente no intervalo fazer perguntas por escrito. Ficamos impressionados, eu e meu marido, com tamanha riqueza de detalhes, cuidado e precisão com que nos foi passado cada orientação. Simplesmente, não tivemos nenhuma dúvida sobre o retiro em si. Apenas curiosidades sobre a meditação. Ela conduziu por 8 horas 100 pessoas em silêncio com completa maestria.

 

O lugar é absolutamente lindo, calmo, tranquilo e os sons que mais ouvíamos eram o da natureza. Aliás, eu acreditava que para meditar sempre deveria ter uma música de fundo tranquila para facilitar, mas o nobre silêncio era absolutamente em todos os sentidos. Nos momentos da meditação era silêncio absoluto, a única que tinha aval para se manifestar era a natureza. E que bela participação! Sons de pássaros, barulho das folhas das árvores ao vento…Uma rica fonte de energia durante todo o processo.

 

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O mesmo processo que faz meu corpo doer, pode curá-lo

 

Na hora da meditação, retiramos todos os metais do corpo, relógio, brincos, colar, anéis…pois eles bloqueiam energia. A dor física era esperada e ela veio. Aquele desconforto da perna em posição meio lótus (cruzada com uma perna por cima da outra, diferente da “perna de índio”), a coluna também reclamou algumas vezes. Mas decidida a controlar minha mente eu me vi simplesmente, mesmo depois de alguns minutos sem sentir mais minha perna, tranquila, vazia e entregue.

 

Junto com a mente fui mostrando ao meu corpo que essa “dor” era impermanente e o mesmo processo que fazia meu corpo doer, poderia curá-lo. A meditação.

 

Eu precisava mostrar para minha mente qual era meu limite de dor, o máximo que eu era capaz de suportar. Quando eu sentia que tinha chegado nesse limite, com a perna completamente adormecida, simplesmente, tudo zerava. E eu sentia disposição para ficar mais tempo do que eu já havia aguentado. Percebia uma luz dourada reabastecendo cada parte do meu corpo. Eu não sei explicar em palavras esse processo que transcende. Eram sensações físicas, misturadas com pensamentos, superação, abstração e vazio. Mas assim foi. E então pude meditar ininterruptamente por 30 minutos!

 

Entre alguns quase cochilos, pensamentos aleatórios, vontade de me mexer, mente sem pensar em nada…eu superei, respirei e mentalizei que conseguiria. Meditei por esse tempo 3 xs ao longo do dia. Ao todo cerca de 1:30h. Ao final de cada sessão, ao abrir meus olhos, fazer alguns exercícios para o corpo ainda em posição meio lótus, percebia meu corpo e as pernas já estavam normais. Essa foi uma experiência única! Uma quebra de paradigma inesquecível para mim! Imagina, eu meditava geralmente por no máximo 5 – 8 min por dia com muito esforço mental e sem acreditar que eu era capaz como nesse retiro percebi que era.

 

E esse foi mais um passo fundamental para eu perceber, ou melhor, sentir como a minha mente é passível de controle, e assim, o corpo também. 

 

A sugestão que eu dou para quem é iniciante e deseja vivenciar a experiência lá é: antes vivencie a meditação que ocorre aos finais de semana, gratuitamente. No site do templo tem sempre informações e cronograma das atividades. 




O desconforto é necessário

 

É muito ‘fácil’ entrar, passar e sair de uma experiência de um dia como essa sendo a mesma pessoa, voltar pro dia a dia e continuar a vida do mesmo jeito e ainda achar que aquilo tudo foi uma besteira. Mas o desafiador é de fato se permitir. Se propor a viver sua própria vida por uma outra ótica, se entregar para um desconforto necessário. Questionar seus padrões atuais.

 

Meditar por 30 min é desafiador? Passar 8 horas seguidas sem poder falar nada é humanamente impossível? Você não sabe a maravilha que é. Foi uma experiência incrível! Ao tempo que eu sentia, mais no início do dia, vontade de me comunicar com o externo, eu lembrava da regra e silenciava, me voltava para dentro. Assim acostumei que ao final do dia, quando o retiro se encerrou a vontade de falar já nem era mais latente. E aí vem o aprendizado, “a saída é para dentro”. O Nobre Silêncio, era realmente, nobre. 



Palavras não significam nada

 

O mais lindo nisso, é que homens e mulheres apesar de fazerem o retiro juntos, ficavam dispostos separadamente na sala, na hora do almoço, no intervalo etc. Mulheres de um lado e homens do outro. Ou seja, eu e meu marido chegamos lá na expectativa de que seria um dia de experiência juntos, lado a lado, “grude” como dizemos. E não foi. Mas com o silêncio como regra, naturalmente encontramos um outro jeito de nos comunicar. O olhar. Que na verdade, foi muito mais que só isso. A longas distâncias que estávamos nossos olhares se encontravam e eu preciso dizer: isso ocorreu incontáveis vezes! Era natural! E de verdade, foi transcendente para mim! Sei que para ele também foi muito marcante.

 

Pois era como se cada olhar representasse um “te amo, estou com saudades já, queria estar perto de você, estou feliz por você estar aqui, estou cuidando de você mesmo de longe, te amo…”. E “ler” tanto carinho e amor em cada olhar é a prova de que palavras absolutamente não significam nada! Ali ocorria pura troca de energia e sentimento entre nós. Nos conectamos profundamente e por apenas poucos segundos sem dizer uma palavra se quer e sem ter qualquer tipo de contato físico.

 

Ou seja, menos é mais. Menos bla bla bla, menos pensamentos fantasiosos, mais conexão consigo mesmo, mais energia positiva, mais contato genuíno com o outro, mais sentimento transcendendo. Essa foi uma das grandes lições que aprendi nesse dia. O silêncio está diretamente ligado à profundidade da concentração e conexão. 

 

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A receita para a felicidade duradoura é simples

 

A sensação que tive durante essa experiência é que estamos, a maioria da população, indo pela contramão da saúde e felicidade plena. Dormimos tarde e acordamos cedo. Trabalhamos muito. Vivemos estressados e ansiosos. Nos tornamos uma máquina de produzir auto culpa. Sem tempo para preparar uma comida saudável, comendo muito na rua. Sem nem se quer tentar meditar e conhecer os reais benefícios da meditação. Sem tempo para a família. Sem viver com atenção plena o aqui e agora.

 

Mas a receita para alcançar a felicidade duradoura não custa caro, não tem nada de difícil de acesso, pelo contrário. Está democraticamente ao alcance de todos! Controle sua mente, cultive pensamentos positivos. Medite sentada diariamente por pelo menos 5 minutos. Insira o máximo que puder de comidas naturais na sua alimentação. Evite carnes vermelhas. Durma cedo. Acorde cedo. Tome muita água. Coma pelo menos 3 refeições por dia (saudáveis) e estará bem alimentado.

 

Não medite uma hora após as refeições. Esteja em contato constante com a natureza. Entenda que tudo é impermanente, as coisas boas e ruins. Aceite doenças corriqueiras (gripe e garganta inflamada, por exemplo) como temporário e um alerta para prestar atenção no seu corpo, nos pensamentos e sentimentos. Cure-as com descanso e água. Evite remédios. Cerque-se de pessoas que cultivem bons sentimentos em você. Escolha ambientes saudáveis. 




Cuide de quem te acompanhará sempre

 

Por fim, entenda que, por mais influenciado que você seja pelas pessoas ao seu redor, seus pais, cônjuge, filhos, amigos, ninguém pode te fazer um bem maior do que aquele que você é capaz de gerar com sua própria mente. Pois ela é a única que te acompanhará em todos os instantes da sua vida e pode ter certeza que é muito mais importante do que o que você vê quando se olha no espelho (o físico). Sua felicidade plena será fruto da sua dedicação e empenho diário para ter cada vez mais o controle sobre sua mente e seus pensamentos. Começa por aí. Não de outra forma. 

 

E lembre-se, a melhor religião para você (não necessariamente o budismo) é aquela que mais se adapta à sua vida!

 

Medite e se reedite. 

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Escrito por Marcela Chiecco, empresária, Psicóloga e Coach de Relacionamento para Mulheres e associada do Clube de Negócios Lidérica.

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