Dinheiro, poder, independência: O que Mariana Florentino quer para as mulheres
“Para as mulheres, dinheiro é liberdade”. A frase de Mariana Florentino, 31 anos, ecoa entre as participantes do seu workshop de finanças femininas numa tarde de sábado em Brasília. A especialista em finanças e empreendedorismo feminino trabalha para trazer informação e poder para mulheres em diversos cursos que realiza pelo Brasil e através de consultorias. Ela tentar mudar todo uma cultura machista que ainda está impregnada no discurso popular, de que dinheiro não é coisa de mulher ou que não somos boas em matemática. De bloco em bloco, ela tenta construir novos caminhos para que as mulheres possam tomar conta de um espaço ainda pouco explorado, mas necessário.
A relação da mulher com o dinheiro ainda é muito recente e cada vez mais informações chegam pra elas, segundo Mariana, porém há muitos padrões para serem quebrados. “Foi só na década de 60 que as mulheres começaram a ter direito ao CPF e com isso ela teve acesso à uma conta no banco. Antes a relação era totalmente dependente de um homem. Não que isso seja muito diferente de hoje, ainda existe o estigma do príncipe encantado, de alguém que tem a responsabilidade de cuidar dela”, aponta.
A nossa relação com dinheiro não é só matemática, ela é emocional.
Mariana fez administração e traçou seu caminho profissional quando percebeu que era hora de mudar alguns estigmas. Durante suas pesquisas percebeu que era preciso mudar culturalmente a relação das mulheres com o dinheiro. “Pra começar, as pessoas têm mania de achar que dinheiro é uma coisa ruim. Quando a gente fala ‘fulano é podre de rico’ já estamos levando pro lado sujo, negativo. Além disso, tem a questão do cotidiano, que a mulher não precisa investir, os responsáveis por isso acabam sendo o marido ou o pai; estamos ligadas à futilidade apenas. E não somos incentivadas a falar das nossas contas e de investimentos“, comenta.
“A maioria das mulheres não gosta nem de falar de dinheiro ou de sequer pensar na fatura do cartão de crédito.”
Ela trabalhou como consultora de empresas durante um tempo até começar a se interessar nas histórias de outras mulheres. “Percebi que com a consultoria eu impactava apenas uma pessoa só e era preciso multiplicar. Então criei a Florin, uma empresa que serve para ser aceleradora de negócios femininos e para passar informação adiante”. Ela mora em Florianópolis, mas passa o ano dando cursos em outras cidades do país, e atende apenas o público feminino para dar soluções financeiras de forma individual ou coletiva. “O que eu busco no meu trabalho é dar essa liberdade para as mulheres e acelerar sonhos”. Ela agora planeja trabalhar com mulheres vítimas de relacionamentos abusivos e que acabam presas neste padrão também por falta de recursos financeiros.
“Ajudo outras mulheres a se organizar porque dinheiro é liberdade.”
Para tentar entender a relação das mulheres com o dinheiro, ela fez um mestrado com foco em empreendedorismo feminino. Quando foi entrevistar empresárias para a sua pesquisa, descobriu que elas mantinham um padrão. O dilema não era falta de dinheiro ou a ideia genial que precisavam para seguir adiante. “Comecei a perceber que o medo do crescimento é que era um complicador. Chegava um ponto que ela não sabia se crescia ou voltava atrás, se seguia adiante ou desistia”, conta Mariana. As mulheres apesar de serem a maioria na lista de empreendedorismo no Brasil, ainda não levam seu negócio como “essencial” para a vida financeira da família, ele acaba sempre sendo um plano B.
“Quando escolhemos o empreendedorismo parece que estamos sempre devendo.”
Segundo a especialista, esse bloqueio com o dinheiro, com pensar em se arriscar mais, vem desde a infância e o modo como somos educadas. “Não somos encorajadas a lidar com o dinheiro. Quando somos crianças, na hora do brinquedo, ganhamos a casinha pra ficar ali, o menino ganha o carrinho que vai desbravar o mundo. Desde pequena a gente vive nesse sistema de machismo”, aponta.
“Meu pai foi o primeiro a conversar comigo sobre dinheiro, ele me disse se eu colocasse dinheiro no banco, ele me dava um pouquinho a mais. Achei logo que ia ficar rica e que o banco trabalhava pra mim. Foi minha primeira noção de investimento e eu devia ter uns sete anos”, conta Mariana, que acredita ter tido sorte de ter crescido em um lar que incentivava a educação financeira.
Informar e ensinar é um dos pilares para a mudança na consciência financeira das mulheres, segundo Mariana. “É uma forma de mudar a nossa sociedade. Quando a mulher é empoderada, ela divide com mais facilidade, passa pra outras. Já o homem não, ele retém conhecimento”.
“Precisamos entender o impacto que uma mulher bem informada causa na sociedade.”
Com os workshops, Mariana responde algumas questões. Como as mulheres podem ganhar mais dinheiro? Como podemos romper essa barreira imposta de que não sabemos ganhar dinheiro? Como derrubar o machismo e a desigualdade? “Temos duas saídas: o empreendedorismo e o investimento financeiro. Acabar com a desigualdade nas empresas ainda é muito difícil, mas uma ação na bolsa de valores vai pagar a mesma coisa pra um homem e pra uma mulher. E no empreendedorismo é a gente que dita os valores da empresa, o manifesto vai ter a nossa cara”, aponta Mariana.
Uma outro passo é conversar. Falar sobre dinheiro, se informar, sentar na frente do computador e fazer um orçamento mensal (ou semanal, como ela geralmente indica nos cursos, por ser mais eficiente), trocar ideias com as amigas, fazer investimentos, não ter medo. “Precisamos falar sobre dinheiro, tem muitas mulheres que não sabem sequer quanto o parceiro ganha. A gente é fruto a gente viveu, existe uma repetição de comportamento financeiro e ele precisa ser quebrado ou reforçado, mas a maioria das vezes é romper mesmo e começar do novo”, aponta Mariana, que segue em buscar dessas fronteiras que precisam ser mudadas.
FONTE: www.huffpostbrasil.com