A Realidade Feminina no Mercado de Trabalho e nos Negócios

Texto lido por Danielle Corga em evento alusivo ao mês da Mulher, promovido pela ACI MULHER (Associação Comercial e Industrial de São José dos Campos)

Boa noite, senhoras e senhores. Espero que nesta noite desfrutem conosco momentos agradáveis e de muita reflexão. Estamos, aqui, hoje, para juntos com a ACI e a ACIMulher comemorarmos o Dia 8 de março, o dia Internacional da mulher. E, não há melhor forma para comemorarmos do que obtermos informação e conhecimento sobre o assunto, refletirmos sobre a importância dessa data e pensarmos no futuro que queremos. O dia Internacional da Mulher está na agenda mundial, pois, ao redor do mundo, a mulher ainda é discriminada e carece de ser tratada com equidade, em alguns lugares, mais do que em outros. Mas o fato é que: em todo o globo, a mulher ainda sofre discriminações.

A primeira comemoração de que se tem notícia ao dia da mulher foi uma comemoração de âmbito nacional nos EUA, em 28 de fevereiro em 1908, quando um grupo de 1500 mulheres protestou em prol da igualdade política e econômica. A data passou a ser comemorada em oito de março, em 1917, na Rússia, mas só oficializou-se internacional, em 1921, também na Rússia. (25 Conquistas das mulheres no Brasil, 2012). Bem, entre 1908 e hoje, passaram-se 110 anos. Nesses, 110 anos, as mulheres se mantiveram fortes, altivas e guerreiras. Mas o que nossa luta, nesses 110 anos, conquistou? No Brasil, por exemplo, em 1915, conquistamos o direito a ter depósitos bancários (mesmo que ainda sob a permissão do marido), em 1932, o direito ao voto, em 1945, conquistamos o reconhecimento internacional pela ONU da igualdade dos direitos entre homens e mulheres, em 1949, o direito de ter uma olímpiada só nossa, os “Jogos da Primavera”, em 1951 foi aprovada pela OIT a igualdade de remuneração entre trabalho masculino e feminino em funções iguais; bem, será conquistamos? Nos anos 60, no Brasil, conquistamos o Estatuto da Mulher casada que entre outras coisas dava à mulher o direito de trabalhar sem a prévia autorização do marido. Nos anos 80 surgiram, no Brasil, os primeiros centros de defesa para coibirem a violência doméstica, em 1988 tivemos avanços na nova constituição brasileira. (Wikipédia, 2018) Essas são apenas algumas das muitas conquistas obtidas nesses 110 anos. Mas é importante observar que são conquistas, foi preciso lutar por elas, não surgiram igualmente para homens e mulheres, foi necessária a luta.

É indiscutível a quantidade de conquistas obtidas nestes 110 anos, a olho nu parece mesmo que não há mais o que fazer, tanto que é comum ouvirmos frases do tipo: – Não vejo nenhuma diferença entre homens e mulheres, hoje; – Não vejo necessidade de ter um dia para comemorar a mulher, assim também deveria ter o dia do homem; – Acho uma bobagem à existência do dia da mulher, porque o dia da mulher é todo dia. Pois bem, quem faz afirmativa como essas ou não é mulher ou não lê nas entrelinhas. Precisamos da data, sim, porque ainda não somos tratadas com equidade em todas as esferas da sociedade e nem em todas as suas dimensões. Gostaria de pedir licença e retomar uma de nossas “conquistas”, por favor, conquista entre aspas, que citei anteriormente: Em 1951, foi Aprovada pela Organização Internacional do Trabalho a igualdade de remuneração entre trabalho masculino e feminino para função igual. Pois bem, a desigualdade entre homens e mulheres no trabalho é um problema global, hoje, no ano de 2018. Entre 142 países no ranking de igualdade de salários por gênero, o Brasil ocupa a posição 124. E apesar de sua diminuição ter de fato ocorrido na última década, a progressão é lenta e irregular. Já entre os 22 países das Américas, Norte, Central e Sul, nosso país aparece na posição 21, muito pouco edificante, à frente apenas do Chile, e atrás de países como Bolívia, Honduras e Panamá (Taofeminino). Este é o exemplo de que o papel se distancia muito da realidade, dados do IBGE, de 2015, afirmam que a renda média nacional do brasileiro é de R$ 2.043, mas os homens recebem mais. Enquanto eles ganham, em média, R$ 2.251, as mulheres recebem R$ 1.762, uma diferença de R$ 489 (Carneti, 2016). E os dados vão piorando na medida em subimos, hierarquicamente, nas organizações. Segundo o Instituto ETHOS (2016), em pesquisa realizada, em 2015, com as 500 maiores empresas do Brasil: As mulheres, que são maioria da população brasileira (51,4%), e são 43,8% dos trabalhadores brasileiros, estão sub-representadas. Além da desigualdade em relação aos homens, enfrentam um afunilamento hierárquico que as exclui, em maior proporção, dos postos mais elevados. As mulheres esbarram na estreita passagem para o reduto ainda quase inexpugnável do quadro executivo, ficando com uma participação de 13,6%. As mulheres têm vantagem numérica em relação aos homens no contingente de aprendizes e estagiários, são 58,9%. Perdem espaço, no entanto, já a partir dos trainees, com 42,6%. Nos níveis seguintes, estão ainda menos presentes, com porcentagens de 35,5% no quadro funcional, 38,8% na supervisão, 31,3% na gerência, 13,6% no quadro executivo e apenas, 11% delas, no conselho de administração.

Intensificando as diferenças, as mulheres ganham em média 76% do salário dos homens, nos cargos de gerência e direção esta proporção é de 68%, quanto mais alto o cargo e a escolaridade, maior a desigualdade de gênero. E em média, as mulheres (oito anos) estudam mais que os homens (7). Mas, há luz no fim do túnel, segundo o Fórum Econômico Mundial, em pesquisa recente, mostrou que essa questão provavelmente só será resolvida no ano de 2095, faltam então 77 anos. A revista britânica The Economist divulgou recentemente que a igualdade de gênero faz bem ao crescimento econômico e o sexismo não só é errado como também custa caro. Em mesma pesquisa, The Economist divulgou que as mulheres latinoamericanas são relativamente mais empreendedoras que as americanas, mas que o efeito do desequilíbrio entre o empreendedorismo masculino e o feminino ainda existe, embora menor em nossa região do que nos Estados Unidos. Entretanto se este desequilíbrio fosse superado teríamos um aumento do nosso PIB em 4,7%. (Carneti, 2016) Quando o universo é o empreendedorismo parece que o cenário torna-se ligeiramente mais ameno. Neste contexto, as divergências entre homens e mulheres são menores (Gazeta do Povo, 2017). Foram pesquisados 63 países, entre eles o Brasil, e comprovado que entre 2015 e 2017 a atividade empreendedora entre mulheres subiu 10%%. (Grandes Empresas & Pequenos Negócios, 2013) No Brasil, apesar de os números mostrarem uma grande proporção de mulheres na liderança dos novos negócios, isso se dá mais pela característica de “empreendedorismo por necessidade”. Em relação ao empreendedorismo feminino em comparação ao masculino, os dados nos mostram que: ─ As mulheres são deixadas de fora das redes de financiamento, que são predominantemente masculinas e em geral operam por meio de referências de amigos. Elas tendem a investir seu próprio dinheiro ao invés de capital de fora em seus negócios e, quando procuram investidores, pedem quantias menores que os homens. ─ Em tecnologia, menos de 10% das startups são de mulheres. ─As mulheres estão fora dessas redes estabelecidas de negócios, fundamentalmente masculinas;
─ Em um estudo de 18 mil empresas que começaram em incubadoras, apenas seis por cento eram de mulheres. ─ Homens financiam e apoiam outros homens. Isso muda quando as mulheres administram suas empresas, a diferença salarial entre homens e mulheres diminui e as funcionárias têm mais chances de promoção. ─ Elas recebem 40% a 50% dos diplomas de ciências e engenharia e representam 30% da força de trabalho da indústria de softwares. Mas são menos propensas a ter informações sobre como se tornar empresárias, a ver mulheres como modelos empresariais e a conhecer investidores de risco. ─Redes de contatos são essenciais para o sucesso, na opinião delas, que são mais adeptas do networking. ─As dificuldades em se senrem empreendedoras também afligem as brasileiras. Em suma, empreendedoras ou funcionárias de organizações fica claro, com este breve panorama que o caminho ainda é longo, não podemos esmorecer. A pergunta que paira neste instante é: ─ Mas por que esta é a realidade mundial? O que será que nos falta? Muitas são as justificativas e explicações dos especialistas, especialmente, os econômicos para essas diferenças e discrepâncias, vejamos algumas delas: ─ A mulher se ausenta do mercado de trabalho em função da maternidade; ─ Em geral, as mulheres escolhem posições e atividades profissionais que a permita ter uma jornada de trabalho reduzida para que possam conciliar o trabalho e a criação dos filhos e o cuidado com a vida doméstica; ─ As mulheres normalmente optam por tarefas e cargos com menos riscos e, portanto, ganhos inferiores, ─ Organizações com gestões imaturas; ─ A cultura machista em que estamos imersos. Ainda faltam muitas conquistas, e, talvez, as mais graves, aquelas invisíveis, aquelas intangíveis. As conquistas da esfera moral, aquelas que estão no imaginário cultural. É preciso acabar com a violência doméstica, é preciso eliminar o feminicídio, é preciso extinguir o assédio moral e sexual, é preciso creditar às mulheres o êxito
proveniente de seu esforço e competência, é preciso que as funcionárias sejam avaliadas no interior das organizações com objetividade e não com a subjetividade masculina, é preciso equilibrar as tarefas domésticas entre todos entre todos os membros da família.

Precisamos educar meninas e meninos com as mesmas tarefas e obrigações domésticas e com as mesmas responsabilidades familiares. Não nos esqueçamos de que as mudanças estão em nossas mãos. Precisamos ainda conquistar a ideia de independência de gênero, precisamos lutar para obtermos mais espaços, mas com igualdade, queremos nossas posições no trabalho, queremos os cargos estratégicos mas por competência, queremos as lideranças no desenvolvimento profissional e financeiro, queremos ser empreendedoras mas porque almejamos este trabalho. Não deveremos levantar a cabeça para olhar nossos parceiros, nem incliná-la para baixo, os olhares entre homens e mulheres, em todas as esferas, precisam estar na posição horizontal e se possível em sintonia. É imperioso que reflitamos sobre nossas dificuldades e obstáculos, que discutamos e planejemos formas de mudar a realidade para aquela que desejamos. Somos diferentes dos homens, sim, e somos semelhantes quando o assunto é respeito e direitos. Aí está, portanto, a importância da data. Uma boa noite e sejam muito bem vindas. Obrigada.

Referências Bibliográficas: CARNETI, KAREN. Diferenças entre homens e mulheres no trabalho, por que elas ainda existem? 2016, http://www.taofeminino.com.br/carreira/diferencas-entre-homens-emulheres-no-trabalho-s1909113.html, (acesso: 18/03/16). GAZETA DO POVO. Porque as mulheres não se sentem empreendedoras, 2017. http://www.gazetadopovo.com.br/economia/empreender-pme/por-que-as-mulheresnao-se-sentem-empreendedoras-9yooqwnqqc6caz7k6rrz24k00, (acesso: 19/03/2018).
HISTÓRIA DIGITAL, 25 Conquistas das Mulheres no Brasil, 2012, https://historiadigital.org/curiosidades/25-conquistas-historicas-das-mulheres-nobrasil/, (acesso, 18/03/2018). INSTITUTO ETHOS. (2016) Perfil Social, Racial e de Gênero nas 500 maiores Empresas do Brasil e suas Ações Afirmativas. https://www3.ethos.org.br/cedoc/perfil-socialracial-e-de-genero-das-500-maiores-empresas-do-brasil-e-suas-acoesafirmativas/#.Wrfq5ejwZdg ,(acesso: 17/03/2018). PEQUENAS EMPRESAS & GRANDES NEGÓCIOS. Estudos internacionais revelam diferenças entre himens e mulheres empreendedores, 2013, http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,EMI231194-17148-1,00ESTUDO+INTERNACIONAL+REVELA+DIFERENCAS+ENTRE+HOMENS+E+MULHERES+EM PREENDEDOR.html,(acesso: 18/03/2018).

WIKIPÉDIA, Cronologia do direito feminino, 2018, https://pt.wikipedia.org/wiki/Cronologia_do_direito_feminino, (acesso, 18/03/2018.

 

São José dos Campos, 21 de março de 2018

ProfªDrª Danielle Corga

Vice-Presidente ACIMulher 

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